segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Motivos para agir: as respostas de três filósofos

Eis três respostas de outros tantos filósofos à pergunta feita no post anterior, retiradas do mesmo livro (Que Diria Sócrates?):

PETER LIPTON: Há dias, estava eu a almoçar quando um diabinho poderoso me deu a escolher entre duas hipóteses: uma, os meus filhos singrarão numa vida próspera, mas eu viverei convencido de que eles vivem uma vida miserável (o que faria com que eu me sentisse miseravelmente); a outra, os meus filhos viverão de facto uma vida de miséria, mas eu viverei convencido de que eles singram numa vida próspera (o que faria com que eu me sentisse muitíssimo feliz). Assim que eu anunciar a minha escolha, a minha memória de ter feito esta escolha esfumar-se-á, aliás, esfumar-se-á inclusive a minha memória de ter almoçado com o diabinho. Sabe que mais? Vou escolher a hipótese “filhos felizes, eu miserável”. Não sou nenhum anjo, mas este é um acto altruísta.

JYL GENTZLER: O facto de, em geral, sentirmos prazer quando temos noção de que fizemos algo que acreditamos ser bom não implica que tenhamos praticado essa boa acção pelo prazer que esperamos que advenha de a realizarmos. É verdade que fazemos muitas coisas cuja motivação para que as façamos se prende apenas com o prazer que elas nos proporcionam. Muitas pessoas têm relações sexuais apenas porque ter relações sexuais lhes dá prazer, tal que, se não lhes desse prazer, não o fariam, e talvez não o pudessem fazer. Mas nem todas as nossas acções se enquadram nesta categoria. Há coisas que fazemos simplesmente porque estamos convencidos de que valem a pena ser feitas. E dado que acreditamos que valem a pena ser feitas, sentimos satisfação quando sabemos que fizemos uma coisa que valia a pena fazer. Todavia, não pode ser o caso que façamos este tipo de acções pelo prazer que o facto de as fazermos nos transmite, uma vez que o próprio facto de sentirmos este prazer depende de atribuirmos valor independente às acções levadas a cabo ou às consequências dessas acções. Por exemplo, se eu não considerasse que era uma boa ideia contribuir para a Oxfam [Organização não governamental internacional de combate à fome e à pobreza] com parte dos meus limitados recursos, não sentiria prazer em fazê-lo. Assim, o facto de acreditar que é uma boa ideia que eu contribua para a Oxfam não pode ser motivado apenas pela minha expectativa de que virei a retirar algum prazer pelo facto de o ter feito.

THOMAS POGGE: Dada a imensa diversidade da conduta humana ao longo das épocas e nas mais variadas culturas, é fácil descobrir contra-exemplos plausíveis. Porém, tais contra-exemplos estão sempre sujeitos a ser liminarmente contestado por observações como a que menciona: a acção aparenta ser altruísta, mas é efectivamente motivada pela satisfação que o agente espera derivar da expiação de uma culpa ou da aprovação por parte de terceiros. Mesmo quando uma pessoa se atira para cima de uma granada prestes a explodir para salvar os seus camaradas, poderá sempre haver quem diga que a satisfação que este indivíduo espera vir a obter, por exemplo sob a forma de louvor por parte dos seus camaradas, terá certamente pesado mais na ponderação dele do que o receio que lhe inspira a dor, e a morte, que sabe que vai sofrer ao tomar esta atitude.

O problema com este tipo de objecção é o facto de conduzir a uma circularidade. O facto de uma pessoa agir de certa maneira é tomado como suficiente para mostrar que terá forçosamente que ter havido uma motivação egoísta para essa acção. E a proposição em questão (i.e., todas as acções humanas são motivadas por interesse próprio) passa assim a ser completamente imune a refutação. Passa a ser repetida a propósito de toda e qualquer acção. E, uma vez assim sendo, deixa de ser expressão de uma descoberta (perturbadora) sobre o mundo específico em que vivemos. [...]

Consideram estas respostas esclarecedoras? E concordam com elas?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Motivos para agir

“Acredito que todas as acções humanas são motivadas por interesse próprio: mesmo as chamadas acções altruístas são levadas a cabo com o objectivo de redimir uma culpa, ou de obter aprovação por parte de outros, ou mesmo para usufruir daquele sentimento agradável que nos preenche quando sabemos que fizemos uma coisa boa (acção que é essencialmente egoísta, considerando que o indivíduo que a pratica recebe uma recompensa espiritual, em vez de uma recompensa material). Como discordariam desta posição?”

Retirado do livro organizado por Alexander George, Que Diria Sócrates? (Gradiva)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Dia mundial da filosofia: respeitar os filósofos

Hoje é o dia mundial da filosofia. Acho que um dia só é pouquíssimo.
Para assinalar este dia, pediram-me para escrever um texto sobre algumas afirmações célebres de filósofos à minha escolha. Deixo-vos aqui o texto com o resultado das minhas reflexões filosóficas, esperando que mostrem algum respeito, mas nenhum respeitinho, nos vossos comentários.


Respeito pelos filósofos

Há quem encare os filósofos como deuses ou como sábios: com muito respeitinho, não ousando discordar deles. Para essas pessoas, as palavras de um filósofo são como a voz de um oráculo que, em vez suscitar discussão, é preciso aceitar e repetir respeitosamente. Mas isso é a própria negação da filosofia, pois é um convite à suspensão da nossa capacidade crítica.

Olhar para os filósofos desta maneira é confundir filosofia com religião. Além de que, por incrível que possa parecer a algumas pessoas, os filósofos são seres humanos como os outros: comem, dormem, amam, choram, vão à praia, usam telemóvel e... erram. Assim, a melhor maneira de respeitar um filósofo é encará-lo simplesmente como filósofo – não como pregador – discutindo criticamente as suas ideias. O que os filósofos querem é respeito, não respeitinho.

Eis, pois, algumas afirmações de filósofos importantes que, com o devido respeito, me parecem disparatadas:

Do que não se pode falar, há que ficar em silêncio. Wittgenstein, o autor desta afirmação, considerava que o mais importante é precisamente o que não pode ser dito. Mas deverá esta afirmação ser levada a sério? Se sim, Wittgenstein está a ser incoerente, pois está a exprimir algo acerca do que não se pode falar. Razão parece ter um outro filósofo, Frank Ramsey, ao comentar que o que não pode ser dito nem sequer pode ser assobiado. Pelo que se vê, Wittgenstein fez mais do que assobiar, pois não conseguiu ficar em silêncio acerca do que não se pode falar.

Até aqui os filósofos têm-se dedicado a interpretar o mundo, porém o que importa é transformá-lo. Marx, autor da frase, dava uma prioridade à praxis (prática ou acção) em relação à teoria. Mas há demasiados exemplos de que a prática, quando não é iluminada por uma compreensão prévia da realidade, acaba por se tornar cega e mesmo perigosa. Como sabemos o que transformar ou sequer se podemos mudar o que ainda não tentámos compreender? E será que é realmente importante mudar o que eventualmente possa estar bem? Não será fundamental saber antes o que está bem ou mal e porquê para sabermos se vale realmente a pena mudar seja o que for? Assim, a ideia subjacente de que a teoria e a prática são coisas divergentes é manifestamente errada e até perigosa.

O que não me mata torna-me mais forte. Disse-o Nietzsche, mas também o dizia a minha avó, que nunca ouviu sequer falar de Nietzsche. E até já a avó da minha avó o dizia também, só que de uma forma ligeiramente diferente: o que não mata engorda. Mas basta pensar um pouco para ver que tanto Nietzsche como a minha avó foram algo precipitados a tirar conclusões, o que se desculpa mais à minha avó do que a Nietzsche. A ideia de Nietzsche é a de que a vida é para ser vivida sem restrições, sem disfarçar a dor e a alegria, como acontece com os mais fortes e corajosos, que nada rejeitam. Assim, dar o peito às balas é próprio dos mais fortes. Só que há balas que não matam mas moem, deixando-nos fracos e feridos para o resto da vida. Nem Nietzsche nem a minha avó foram capazes de evitar uma falácia muito comum: a falácia da generalização precipitada.

Claro que as frases destes filósofos têm mais que se lhes diga e o contexto em que foram produzidas pode dar-lhes outro sentido. Mas tem de se começar a discussão por algum sítio e isto é só um princípio de discussão.

Com muito respeito, mas sem qualquer respeitinho.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Quantas acções?

Salvatore, um membro da máfia siciliana, dirige-se a um apartamento da cidade de Palermo com uma metrelhadora nas mãos para fazer um ajuste de contas. Há quatro membros de famílias rivais que ele quer eliminar e sabe que, nessa noite, os quatro se juntam no apartamento para jogar às cartas. Sobe as escadas, arromba a porta do apartamento e surpreende os quatro inimigos sentados à mesa. Descarrega as balas da metrelhadora sobre eles, matando-os.

Sucede que, ao fundo da sala, estava uma quinta pessoa - a Luciana - atrás de uma cortina de tecido a fazer café para os outros. A Luciana foi também atingida e morreu. Salvatore desconhecia a Luciana e nem sequer sabia que estava na sala.

Pergunta-se: o Salvatore realizou a acção de matar a Luciana? E realizou cinco acções (matar cada uma das cinco pessoas) ou apenas quatro (disparar sobre os quatro jogadores de cartas)? Ou será que apenas realizou uma acção, a acção de matar cinco pessoas?

O que vos parece?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mais acções?


Vamos aceitar que as acções são acontecimentos que consistem em algo que um agente faz intencionalmente.

Imaginemos agora a seguinte situação. A Hermínia estava a jogar à bola na rua e apostou dez euros com o Macário que, com um só pontapé na bola, conseguia acertar na placa de trânsito que estava no outro lado da rua, mesmo em frente da montra de uma pastelaria. Por azar ou falta de perícia, em vez de acertar na placa, acertou antes na montra da pastelaria, tendo partido o vidro. Um dos clientes da pastelaria foi atingido na mão por um pedaço de vidro, ficando a sangrar.

Posto isto, o dono da pastelaria acusou a Hermínia de lhe ter partido a montra e o seu cliente também a acusou de o ter aleijado na mão. Mas a Hermínia respondeu a ambos que estavam enganados; que ela não realizou a suposta acção de partir a montra nem a suposta acção de aleijar a mão do cliente, dado que nenhum desses acontecimentos foi intencional.

- Então não realizaste qualquer acção? - perguntou o dono da pastelaria.
- Realizei sim - respondeu a Hermínia -, mas só a acção de pontapear a bola contra a placa de trânsito. O Macário é testemunha.

Pergunta-se: afinal quantas acções houve e qual foi o agente?

Qual é a falácia?

Uma ex-ministra da saúde da Finlândia diz que a vacina da gripe A, ao contrário da própria gripe A, mata pessoas. Logo, a vacina da gripe A mata pessoas.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Quem argumenta melhor?


Etelvina - Deus existe.
Isaltino - Estás enganada, Deus não existe.
Etelvina - Mas por que dizes que Deus não existe?
Isaltino - Ora essa, porque ninguém consegue provar que existe e, portanto, não vejo por que razão haveríamos de acreditar que existe.
Etelvina - Mas a razão para acreditar é simples: porque ninguém consegue provar que não existe.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Será que escolhemos realmente o que fazemos?

Em 1924, dois adolescentes de Chicago, Richard Loeb e Nathan Leopold, raptaram e assassinaram um rapaz chamado Bobby Franks apenas para provar que conseguiam fazê-lo. O crime impressionou o público. Apesar da brutalidade do seu acto, Leopold e Loeb não pareciam especialmente perversos. Provinham de famílias ricas e eram ambos estudantes excelentes. Aos dezoito anos, Leopold era o licenciado mais jovem na história da Universidade de Chicago, e, aos dezanove anos, Loeb era a pessoa mais nova que se tinha licenciado na Universidade de Michigan. Leopold estava prestes a entrar na Escola de Direito de Harvard. Como era possível que tivessem cometido um assassinato absurdo? O seu julgamento iria receber o mesmo tipo de atenção que o de O. J. Simpson, setenta anos mais tarde.

Os seus pais contrataram Clarence Darrow, o advogado mais famoso da altura, para os defender. Darrow era conhecido como o paladino das causas impopulares — tinha defendido sindicalistas, comunistas e um negro acusado de ter morto um membro de uma turba racista. Três anos depois, no seu caso mais famoso, defendeu John Scopes, do Tennessee, da acusação de ter ensinado a evolução numa aula do ensino secundário. Darrow era também o adversário da pena de morte mais conhecido no país. Em 1902, tendo sido convidado pelo director da Prisão de Cook County para dar uma conferência aos presidiários, disse-lhes o seguinte:

Na verdade, não acredito minimamente no crime. No sentido habitual da palavra, não existem crimes. Não acredito em qualquer distinção entre as verdadeiras condições morais das pessoas que estão dentro e das que estão fora da prisão. São iguais. Do mesmo modo que as pessoas que estão aqui dentro não poderiam ter evitado estar aqui, as pessoas que estão lá fora também não poderiam ter evitado estar lá fora. Não acredito que as pessoas estejam na prisão porque o mereçam. Estão na prisão apenas porque não puderam evitá-lo, devido a circunstâncias que ultrapassam inteiramente o seu controlo e pelas quais não são minimamente responsáveis.
Estas ideias iriam figurar preeminentemente na defesa de Leopold e Loeb. [...]

Leopold e Loeb tinham já admitido a sua culpa, pelo que o trabalho de Darrow era apenas mantê-los longe da forca. Não haveria um júri. O juiz escutaria os argumentos dos advogados e decidiria depois se os réus seriam enforcados.

Darrow falou durante mais de doze horas. Não sustentou que os rapazes eram loucos. Ainda assim, disse, não eram responsáveis pelo que tinham feito. Darrow apelou a uma nova ideia que os psicólogos tinham proposto, nomeadamente que o carácter humano é moldado pelos genes do indivíduo e pelo ambiente. Disse ao juiz: «As pessoas inteligentes sabem agora que todo o ser humano é o produto de uma hereditariedade infindável que o precede e de um ambiente infinito que o rodeia».

Não sei o que levou estes rapazes a realizar esse acto louco, mas sei que houve uma razão para que o tenham realizado. Sei que não o produziram por si. Sei que qualquer uma de um número infindável de causas que remontam ao começo pode ter actuado na mente destes rapazes — que vos pedem para enforcar por malícia, ódio e injustiça — porque, no passado, alguém pecou contra eles.

Os psiquiatras tinham atestado que os rapazes não tinham sentimentos normais, pois não mostravam qualquer reacção emocional ao seu acto. Darrow tirou partido disto:

Deveremos censurar Dickie Loeb por causa das forças infinitas que conspiraram para o formar, das forças infinitas que actuaram na sua criação muito antes de ele ter nascido, sabendo que, por causa dessas combinações infinitas, ele nasceu sem [o tipo correcto de emoções]? Se devemos, então tem de haver uma nova definição de justiça. Deveremos censurá-lo pelo que não teve e nunca teve?
Darrow descreve Loeb como alguém que, na infância, esteve privado do afecto de que um rapaz precisa, tendo passado os dias a estudar e as noites a ler secretamente histórias de crimes enquanto fantasiava cometer o crime perfeito e enganar a polícia. Quanto a Leopold, ele era fraco e não tinha amigos. Cresceu obcecado com a filosofia do «super-homem» de Nietzsche, desprezando as outras pessoas e querendo desesperadamente provar a sua superioridade. Depois os dois rapazes conhecerem-se e, juntos, cometeram um crime que nenhum deles poderia ter cometido sozinho. Porém, estavam apenas a jogar com a mão que a natureza lhes dera. «A natureza é forte e impiedosa», concluiu Darrow. «Trabalha de uma forma misteriosa que lhe é própria e nós somos as suas vítimas. Nós próprios não temos muito a ver com ela.»

O juiz deliberou durante um mês e depois condenou Leopold e Loeb a prisão perpétua. Doze anos mais tarde, Richard Loeb, que fora o instigador do crime, foi morto numa contenda com outro prisioneiro. Nathan Leopold passou trinta e quatro anos na prisão, durante os quais deu aulas a outros prisioneiros, ofereceu-se como cobaia para experiências médicas com a malária, dirigiu a biblioteca da prisão e trabalhou no hospital da prisão. Depois ficar em liberdade condicional, foi viver para Porto Rico, onde continuou a esforçar-se até ao fim da vida por se «tornar novamente um ser humano», sobretudo através de trabalhos que implicavam ajudar os outros. Morreu em 1971.

James Rachels, Problemas da Filosofia (Lisboa: Gradiva, 2009, pp. 155-9)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Mais uma derivação

Muitos alunos do 11º ano insistiram no pedido de mais exercícios para fazer derivações. Aqui têm mais um:

[(P Λ Q) Λ (R Λ S)] →P, ¬P |-- (¬P ∨¬Q) ∨ (¬R ∨¬S)

Espero que seja o último. Parece difícil, mas talvez não seja assim tanto. Vamos ver, pelas vossas respostas.

domingo, 8 de novembro de 2009

Uma questão básica: o que é uma acção?


Há questões tão básicas, que até parece ridículo pensar que haja algo realmente em questão. Se eu perguntar "Será que o teclado em que escrevo estas palavras existe realmente?", é provável que esta pergunta faça sorrir alguns leitores. E porquê? Porque a resposta lhes parece tão óbvia que não se entende onde possa estar o problema. Concluem, assim, que a pergunta só pode ser disparatada.

Mas será razoável pensar que aquilo que parece absolutamente óbvio não pode ser enganador? Parece óbvio que o Sol se levanta e se põe, pois qualquer pessoa vê com os seus próprios olhos os montes e as casas no mesmo sítio, ao passo que o Sol, como as nuvens e a Lua, percorrem o céu. E isto pareceu-nos durante tantos séculos tão óbvio, a ponto de se tornar indiscutível. Mas sabemos agora que isso não só não era indiscutível como era falso.

Vejamos agora outro exemplo. Parece óbvio que todos sabemos o que é uma acção. Imaginemos que vimos a Adozinda cair no chão, partindo o braço esquerdo, e nos pedem para explicar o que aconteceu. Podemos, por exemplo, dizer que o Eleutério a empurrou e, em consequência do acto do Eleutério, a Adozinda caiu com o corpo em cima do próprio braço, partindo-o. Será que o Eleutério realizou a acção de partir o braço à Adozinda ou apenas a acção de a empurrar? E será que há alguma acção realizada pela Adozinda, nomeadamente a acção de cair ou a acção de partir o próprio braço?

Claro que só podemos responder adequadamente a estas perguntas se soubermos o que é uma acção e todos julgamos saber o que é uma acção. Mas sabemos mesmo?

Se saber o que é uma acção for completamente óbvio, então todos os leitores concordarão sobre quais as respostas correctas para as perguntas anteriores. E também concordaremos sobre quais das afirmações seguintes referem algo que envolve acções:

1. O Marcolino está a dormir.
2. O Marcolino está a estudar História.
3. O Marcolino ofereceu uma rosa à namorada.
4. O Marcolino está a pensar no que vai dizer à namorada.
5. O Marcolino dança um tango.
6. O Marcolino espirrou.
7. O Marcolino é actor e espirra no palco, tal como indica o guião da peça.
8. O cão do Marcolino está a ladrar.
9. O robô ASIMO, construido pela Honda, levantou um dos seus braços mecânicos.
10. Troveja na Serra da Estrela.

Se todas as vossas respostas coincidirem, então fico mesmo convencido que saber o que é uma acção é algo realmente óbvio.

Vamos fazer o teste? Deixem, então, as vossas respostas na caixa de comentários.

sábado, 7 de novembro de 2009

Humor filosófico


Ela sai para o alpendre da casa todas as manhãs e exclama:

- Que esta casa esteja protegida dos tigres! - E, em seguida, volta para dentro.

Por fim, nós dissemos-lhe:

- Para que é aquilo? Não há um único tigre num raio de mil e quinhentos quilómetros.

- Estão a ver? Resulta! - foi a sua resposta.

(Retirado de Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...)

Um exercício de lógica para o 11º ano

A pedido de vários alunos do 11º ano, deixo aqui um exercício de lógica um pouco mais difícil do que o habitual para fazer em casa. Vamos ver quem é capaz de resolver a seguinte derivação:

¬(SP)¬P,¬(¬P¬Q),Q(SP) |-- SP



Nota 1: o martelo sintáctico está um bocado improvisado, mas acho que se percebe.

Nota 2: os alunos do 10º ano não se assustem com o que vão apanhar no 11º, pois isto é mais simples e divertido do que parece.


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Avaliar teorias

Há pessoas que não se interessam por política e nem sequer procuram informar-se sobre as ideias que os políticos dos diferentes partidos defendem para governar o país. O voto dessas pessoas não depende, pois, de uma escolha informada e consciente, mas de motivos que pouco ou nada têm que ver com a competência dos políticos e com as soluções que propõem. Acontece que o número de pessoas que procede assim é elevado, a ponto de poderem ser elas a decidir quem vai governar o país, mesmo que não percebam nada do assunto. Ora, isto não deveria acontecer. Como se resolve este problema? A teoria da Margarida é que só as pessoas que se interessam por política e que estão informadas devem ter direito a voto, pois só assim se pode garantir um bom governo para o país.
Será a teoria da Margarida uma boa teoria? Porquê?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Bem-vindos!

Este é um blogue de apoio aos meus alunos de Filosofia da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes. Pretende-se com ele que a filosofia não fique limitada à sala de aula e que a discussão filosófica continue, tranquila e informalmente, mesmo fora da escola. Apelo, assim, aos alunos, para que usem abundantemente as caixas de comentários, tanto para esclarecer dúvidas como para discutir ideias. Procurarei estar sempre atento e responder aos vossos pedidos e intervenções.

A ideia deste blogue foi-me sugerida por dois alunos do 10º ano, como alternativa ao uso da plataforma moodle da escola, que tem estado com alguns problemas técnicos. Não deixarei de usar a plataforma, mas reconheço que o blogue permite um outro tipo de interactividade e de informalidade, que o torna mais atractivo e eficaz. Apesar de se destinar prioritariamente aos alunos do 10º ano de Filosofia, este blogue procurará não deixar de fora os alunos do 11º ano e também serão bem-vindas contribuições de outros alunos desta ou de outras escolas.