Do filme Doze Homens em Fúria, de Sidney Lumet
Com as matérias previstas para o primeiro período e as avaliações arrumadas, aproveito estas últimas aulas antes do Natal para dar aos alunos uma ideia do que vamos discutir no período seguinte. Aproveito também para sugerir algumas leituras e outras boas maneiras de ocupar algum do seu tempo disponível: livros, música e filmes. Um dos filmes que costumo sugerir aos alunos do 11º ano é Matrix (o primeiro da trilogia), dos irmãos Wachowsky, de que costumo falar a propósito de Descartes.
A verdade é que são normalmente poucos os alunos que ligam a tais sugestões, preferindo muitas vezes passar horas a fio a jogar videojogos, a trocar bocas e inutilidades no Facebook ou a ver TV. Por isso, decidi desta vez adiantar-me e passar-lhes o filme mesmo nas aulas. Até porque, ao contrário do que tantas vezes nós professores supomos, os alunos raramente conhecem os filmes que nos entusiasmaram e achamos imprescindíveis.
Tive o cuidado de perguntar quantos já tinham visto Matrix. Sem surpresas, a esmagadora maioria nem sequer tinha ideia de que tipo de filme se tratava. Eles dificilmente conhecem filmes com mais de meia-dúzia de anos. Assim, pensar que os alunos ficam entusiasmados quando falamos de filmes nas aulas é uma completa ilusão. O melhor mesmo é arranjar maneira de eles os verem antes.
Mas continua a ser ilusório pensar que basta eles terem visto os filmes para ficarem motivados para a discussão filosófica. Por vezes os filmes acrescentam até novas dificuldades, pois é para alguns difícil compreender a história que se desenrola diante de si. Os meus alunos do 11º ano que lerem este texto sabem bem que tive de interromper Matrix a meio para lhes explicar aspectos centrais da própria história, e cuja incompreensão os deixava perdidos. Isto apesar de os mesmos alunos estarem a gostar do que viam - é preciso reconhecer que há diferentes razões para se gostar de um filme.
Tudo isto me leva a pensar que não vale a pena recorrer ao cinema para ensinar filosofia, se isso não for previamente preparado e devidamente enquadrado, o que não é trabalho fácil. Sem essa preparação, a utilização de filmes nas aulas dificilmente é um elemento motivador. Não é claro que ajudem a esclarecer seja o que for, resultando facilmente em ruído didáctico.
O meu colega e amigo Carlos Café tem feito o tal trabalho imprescindível, elaborando guiões de visionamento de filmes para as aulas de Filosofia. Alguns deles encontram-se no seu blogue a filosofia vai ao cinema e mostram como se deve encarar o uso do cinema nas aulas de Filosofia.
E não se admirem de ver por lá guiões de filmes antigos, alguns dos quais a preto e branco. Eu também pensava que filmes antigos a preto e branco não captavam a atenção de jovens adolescentes. Mas essa é outra coisa que verifiquei ser ilusória. Os alunos até podem começar por protestar, mas alguns desses filmes acabam por despertar mais entusiasmo do que sucessos mais recentes. Os alunos do 10º ano acabaram por mostrar mais entusiasmo com Doze Homens em Fúria, um filme a preto e branco de 1957, de Sidney Lumet, do que propriamente os do 11º ano por Matrix.
Nesta matéria (como em outras) convém não partir para o terreno com ideias feitas, seja em que sentido for.