Já aqui referi alguns discos de pop-rock cujo sucesso (junto do público, da crítica ou de ambos) esteve aquém do que, em minha opinião, mereciam. Mas também há os que penso serem frequentemente sobrevalorizados.
Claro que dizer que um dado disco tem sido sobrevalorizado não equivale a dizer que esse disco seja mau; pode simplesmente não ser tão bom como se diz. Seja como for, isto são apenas as opiniões de quem se esforça por ouvir a música sem ideias preconcebidas, se é que isso é mesmo possível. Espero, ainda que de modo algo telegráfico, ser capaz de justificar minimamente as minhas opiniões.
Slowhand, Eric Clapton (1977)
Um dos maiores sucessos de Eric Clapton, mas também um disco sem o mais pequeno rasgo de inspiração. É verdade que Clapton é um grande guitarrista, mas neste disco tudo soa demasiado previsível e sensaborão, onde nem sequer faltam canções xaroposas como o popularíssimo Wonderful Tonight. Este Clapton nem parece o intérprete e compositor inspirado e emocionante dos Derek and the Dominos. Uma pena.
The Wall, de Pink Floyd (1979)
A este pomposo duplo album falta a robusta placidez reflexiva que, desde a entrada de David Gilmour, tinha feito da música dos Pink Floyd um caso singular. Em vez disso, os Pink Floyd optam aqui por uma espécie de espectáculo operático, repleto de um pedantismo musical que muitas vezes chega a roçar o histriónico. A voz metálica e afirmativa, quando não indignada, de Waters sobrepõe-se quase sempre à doce tranquilidade da voz de Gilmour, tão característica dos velhos Pink Floyd. Enfim, os Pink Floyd rendidos ao aparato e à vulgaridade do pathos musical imposto por Waters.
Born in the U.S.A., Bruce Springsteen (1984)
Custa acreditar como um músico que, até então, não tinha conseguido gravar um único mau disco, consegue fazer um disco onde dificilmente se encontra uma canção inspirada. Neste caso, pouco mais há do que Bruce Springsteen a macaquear-se a si próprio em versão fast food musical, com muita batida forte e muita economia de acordes. A capa está ao nível do conteúdo. E vendeu que se fartou!
Nevermind, Nirvana (1991)
O disco tem algumas canções simples e eficazes, mas não creio que se justifique o coro de elogios que tem recebido. Nota-se uma certa autenticidade expressiva na voz e na música de Kurt Cobain. Mas isso não é tudo o que se espera da boa música, até porque quando a gama de emoções expressas é muito limitada, também pode resultar em monotonia, como me parece ser aqui o caso. Não é raro a voz de Cobain soar irritantemente afectada, confundindo expressividade com gritaria inconsequente.
Blue Lines, Massive Attack (1991)
Um disco muito bem produzido, mas muito chato como quase todo o chamado trip-hop. É certo que por vezes consegue ser envolvente, mas apenas quando estamos algo distraídos ou então quando somos adeptos incondicionais deste som. Não é o meu caso.
Use Your Illusion, Guns n' Roses (1991)
Disse que um disco sobrevalorizado não tem de ser um mau disco, mas acho que este é mesmo tão mau quanto sobrevalorizado. Quase tudo soa a plástico, destacando-se a insuportável voz de adolescente rebelde mimado de Axl Rose e as melodias açucaradas de fazer derreter as pedras da calçada, sobretudo quando Rose saca da garganta o seu arrebicado vibrato. Imperdoável foi mesmo o que os GnR fizeram no segundo volume deste álbum ao clássico de Bob Dylan Knockin' on Heaven's Door. Apesar de não ser das melhores canções de Dylan, esta versão consegue transformá-la numa grotesca caricatura do original. No fundo, os GnR não passam de uns Bon Jovi armados em rapazes mal comportados.
Definitely Maybe, Oasis (1994)
Confesso que nunca compreendi o estrondoso sucesso deste disco (o sucesso de crítica, não o sucesso de vendas, claro). As melodias imberbes são mais do que batidas; os três ou quatro acordes do costume são tocados como de costume, nos ritmos do costume. Ao fim das três primeiras músicas já se fica com a sensação de que se está a ouvir sempre a mesma coisa disfarçada de coisa diferente. Não se encontra aqui nada que os Stone Roses, por exemplo, não tenham feito de forma infinitamente superior, mais de uma década antes. Uma belíssima capa (isso sim!) não pode explicar tudo.
Mellon Collie and the Infinite Sadness, The Smashing Pumpkins (1995)
Um disco demasiado longo e confuso, com muitas músicas para esquecer (a começar pelo pobre instrumental pianístico inicial), e uma ou outra boa canção pelo meio. É pouquíssimo para o alarido que suscitou quando saíu. O pior mesmo é a voz cansativa e algo forçada e adolescente de Billy Corghan.
The Fat of the Land, Prodigy (1997)
Sem dúvida que os Prodigy criaram um som instrumental próprio, com uma desenvoltura e poder rítmico algo hipnótico e ritualisticamente eficaz. Há nesta música frenética algo de ancestralmente selvagem e, ao mesmo tempo, futurista. The Fat of the Land é, sem dúvida, o disco dos Prodigy onde isso foi melhor conseguido. Porém, este som algo alucinante e aparentemente ameaçador não deixa de resultar também algo maçador, tornando-se frequentemente previsível. Basta ver que o ritmo das músicas —mais acelerado ou menos acelerado — acaba por ser quase sempre o mesmo. Mas tem também uma capa muito bem esgalhada.