Ao lavar a cara a este blogue, agora já não motivado por preocupações de carácter didáctico, lembrei-me de um ensaio que escrevi em 2002 e que foi publicado na revista Intelectu, nº 6. O ensaio beneficiou da discussão com o professor António Zilhão, a quem agradeço.
Neste ensaio procuro avaliar os argumentos de Quine
contra a distinção analítico-sintético. Dado que as críticas de Quine se
reportam a uma distinção consagrada pela tradição filosófica, começarei por
caracterizar as noções tradicionais de analítico e de sintético. Na segunda
secção, apresentarei os argumentos de Quine, que se encontram principalmente no
seu ensaio Two Dogmas of Empiricism, contra o que diz ser um dogma
apoiado em ilusões. Na terceira secção confronto os argumentos de Quine com
algumas das réplicas que lhes foram dirigidas no sentido de reabilitar a
distinção ameaçada. Entre muito do que se escreveu sobre o referido ensaio de
Quine, escolhi apenas duas tentativas de resposta aos seus argumentos: um
ensaio mais antigo, que entretanto se tornou uma referencia obrigatória nesta
disputa, e um outro bastante mais recente. O primeiro é o ensaio In Defense
of a Dogma de Grice e Strawson e o segundo é Quine’s Holism and
Functionalist Holism de Michael McDermott, publicado na revista Mind
de Outubro de 2001. Numa quarta e última secção apresentarei brevemente a minha
avaliação do confronto de argumentos desenvolvidos nas secções anteriores,
concluindo que o mérito de Quine consistiu principalmente em ter derrubado um
dogma, mas deixando de pé a distinção. Tentarei aí mostrar que esta última
afirmação não envolve qualquer contradição.
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