Há dias citei aqui uma passagem de Rawls sobre a noção de objectividade. Ele considera que, no caso dos juízos morais e políticos, a objectividade não depende de qualquer requisito causal entre a justificação do juízo e o facto de o mundo ser desta ou daquela maneira. Rawls parece, pois, dispensar a ideia de que tem de haver factos morais para que faça sentido falar da objectividade dos juízos morais.
Searle, por sua vez, considera ser perfeitamente possível dar explicações objectivas para fenómenos subjectivos. É o que se passa quando as explicações em causa são entendidas em sentido epistémico e os fenómenos são ontologicamente subjectivos. A propósito, este é uma aspecto que Searle esclarece de forma muito simples e acessível logo na primeira palestra do seu mais recente livro Da Realidade Física à Realidade Humana (Gradiva).
Frege, por sua vez, parece desligar as noções de objectividade e de realidade, pelo menos em certos casos, sugerindo que há coisas que são objectivas mas não são reais, como na seguinte passagem de Os Fundamentos da Aritmética (INCM, p. 59):
Eu estabeleço uma distinção entre aquilo que é objectivo e aquilo que é tangível, espacial, real. O eixo da Terra ou o centro de gravidade do sistema solar são objectivos, mas não lhes chamaria reais como o faço com a Terra. Chama-se frequentemente ao equador uma linha imaginária; mas seria falso chamar-lhe uma linha fictícia. O equador não é criado pelo pensamento, não é o resultado de um processo mental; ele é apenas conhecido ou apreendido pelo pensamento.
A propósito de Frege, descobri nos últimos dias, com grande satisfação, que alguns dos seus textos mais importantes tinham sido recentemente traduzidos e publicados em Portugal, nomeadamente o texto "Sobre o sentido e a denotação", (por vezes referido em português como "Sobre o sentido e a referência"), que inaugurou a filosofia contemporânea da linguagem.
Este texto faz parte de um conjunto de cinco ensaios recentemente reunidos num pequeno volume pela Guimarães. Maior satisfação senti ao verificar que a tradução é da máxima confiança, tendo em conta que foi feita por António Zilhão. Penso que não poderia haver melhor tradutor para estes ensaios, em que se inclui o também influente "Sobre conceito e objecto".
Já agora, o livro Os Fundamentos da Aritmética de onde citei a passagem acima, foi também traduzido por António Zilhão.
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