Uma vez que a mente individual não pode ser inteiramente descrita por si mesma, ou por qualquer outro investigador separado, o «eu» — a famosa estrela convidada nos cenários da consciência — ela poderá continuar a acreditar arrebatadamente na sua independência e no livre-arbítrio. E essa é uma circunstância feliz do ponto de vista darwiniano. A confiança no livre-arbítrio é uma adaptação biológica. Sem ela, a mente, na melhor das hipóteses uma frágil e sombria janela para o mundo real, seria atormentada pelo fatalismo. À semelhança de um prisioneiro, condenado a permanecer toda a vida em solitária reclusão, privado de qualquer liberdade para explorar e à míngua de qualquer surpresa, a mente deteriorar-se-ia.Então, o livre-arbítrio existe? Sim, se não existe enquanto verdadeira realidade, existe pelo menos no sentido operacional necessário para a sanidade, e, portanto, para a perpetuação da espécie humana.
O Sentido da Vida Humana (Clube do Autor Editora), pp. 180-181
Este argumento de Edward O. Wilson é muito semelhante ao de Kant a favor da imortalidade da alma. Com uma diferença importante: este de Wilson visa estabelecer a inevitabilidade prática da crença no livre-arbítrio, ao passo que o de Kant visa estabelecer não tanto a inevitabilidade prática da crença na imortalidade da alma mas a da própria verdade dessa crença.
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