Talvez nenhum outro compositor contemporâneo tenha conseguido criar peças musicais tão incontestavelmente belas como o ucraniano Valentin Silvestrov. Um bom exemplo disso é a frágil e tocante beleza de Prece Pela Ucrânia, escrita em 2014, uma peça coral aqui adaptada para orquestra — com interpretação da Bamberg Symphony e os arranjos orquestrais de Eduard Resatsch.
Tanto o coral original como esta adaptação orquestral são de uma beleza delicada e despojada, que nos resgata de um mundo demasiado ruidoso, como quer o compositor. Uma diferença interessante entre a versão coral original e esta versão orquestral é o uso do vento suave das flautas, soando agora como um suspiro apaziguador que acentua a etérea espacialidade desta prece musical.
A obra de Silvestrov não receia a beleza da música tonal tradicional. Mas, em vez de se fixar no passado, renova a beleza essencial aí anunciada, como uma essência que, numa espécie de «eco do que já existe», desponta entre o que surge e se desvanece. O próprio compositor descreve a sua obra como «silêncio posto em música».
Silvestrov, nascido em 1937, em Kiev, vive agora em Berlim, refugiado da guerra no seu país. Ainda no tempo da União Soviética, a sua música chegou a ser proibida não só por razões políticas (pronunciou-se contra a invasão da Checoslováquia, em 1968) mas também porque não se conformou à estética oficial soviética do realismo socialista nem à sua alternativa modernista, optando antes por uma via pessoal de pendor neoclássico. Daí que a música de Silvestrov represente também um alívio da exaustão vanguardista para a qual ele próprio chegara a contribuir. A beleza do seu Requiem para Larissa, das suas Canções Silenciosas e, em especial, da sua música coral dificilmente nos deixa indiferentes.
Bamberg Symphony — Prayer for Ukraine (Valentin Silvestrov)
Tocante
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