sábado, 12 de agosto de 2017

Santos e autores


Quem é o autor da Suma Teológica?
Resposta: Tomás de Aquino.

E o autor de A Cidade de Deus?
Resposta: Agostinho de Hipona.

E o autor de Proslogion?
Resposta: Anselmo (de Cantuária ou de Aosta ou de Bec).

Se é assim, por que razão, em vez desses nomes, se encontra nas capas de algumas traduções portuguesas daquelas obras os nomes São Tomás de Aquino, Santo Agostinho e Santo Anselmo? 

É porque a Igreja Católica os canonizou.

Mas essa não é uma boa razão. Primeiro, porque os autores dessas obras só muito depois de as terem escrito foram canonizadas. Depois, porque a santidade é o reconhecimento de uma virtude religiosa, não constituindo um elemento objectivo da identificação de um autor. Finalmente, porque acrescentar o título de santidade ao autor em nada contribui para uma identificação mais precisa. Faz tanto sentido como identificar o autor de A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos como Sir Karl Popper.

Em suma, o mais correto é identificar os autores dessas obras usando os nomes pelos quais respondiam quando as escreveram e deixar os santos apenas para a instituição religiosa que lhes atribui o título de santidade. Numa edição filosófica da Suma Teológica, parece-me uma falta de cuidado e de rigor histórico identificar o autor como São Tomás de Aquino. 

Assim, os autores de A Cidade de Deus e de Suma Teológica são, respectivamente, Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino. Em nome do rigor histórico, que todos os académicos deviam prezar, é o que devia surgir nas capas dos seus livros.

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