Que tal passar as férias numa cabana, longe das multidões? Tudo indica que as cabanas são lugares de inspiração e de trabalho criativo. A título de exemplo, refiro aqui algumas cabanas nas quais grandes escritores, filósofos e compositores encontraram inspiração.
O enorme compositor GUSTAV MAHLER (1860-1911) compôs a maior parte das suas obras em cabanas, todas elas na região dos Alpes.
Na cabana de composição de Steinbach, Mahler compôs parte da Segunda Sinfonia (Ressurreição) e todos os seis andamentos da enorme Terceira Sinfonia. Parece que quando o então jovem maestro Bruno Walter foi visitar o compositor a Steinbach parou à porta da cabana para contemplar a bela paisagem do lago rodeado de montanhas. Mahler terá advertido Walter: "Não precisa de ficar para aí especado a olhar. Eu já compus isso tudo!" Estava, nessa altura Mahler a terminar a sua Terceira Sinfonia.
A cabana de Steinbach, na Áustria
Problemas pessoais levaram Mahler a escolher outra cabana: Marienigg. Foi nesta que ele compôs as Quarta, Quinta, Sexta, Sétima e Oitava sinfonias, além dos maravilhosos ciclos de canções Rückert Lieder e Kindertotenlieder (Canções das Crianças Mortas). Parece que Mahler passava dias inteiros de Verão a compor, dando instruções rigorosas para nunca ser incomodado. A própria criada que, pela manhã, costumava deixar algo para comer na cabana, tinha de ir por um caminho diferente para não se cruzarem quando ele se dirigia para o seu trabalho.
A cabana de Marienigg, também na Áustria
A terceira cabana de composição de Mahler foi a de Toblach, e foi nela que compôs aquela que é talvez a sua mais irresistível obra: A Canção da Terra.
A cabana de Toblach, que actualmente se chama Dobbiaco e fica na Itália
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Outro grande compositor que encontrou inspiração numa cabana foi o norueguês EDVARD GRIEG (1843-1907), compositor das famosas Suites Peer Gynt e de um excelente Concerto para Piano e Orquestra em Lá menor. A cabana situa-se em Troldhaugen, na Noruega.
A cabana de Grieg
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Mas também há cabanas filosóficas famosas, entre as quais a que LUDWIG WITTGENSTEIN (1889-1951) construiu na perdida Skjolden, num remoto fiorde da Noruega. Fo aí que Wittgenstein engendrou o que viria a ser o seu famoso Tractatus.
A cabana de Wittgenstein em Skjolden, na Noruega
Actualmente só já se encontram os restos da cabana de Wittgenstein
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Também não podia faltar a cabana de MARTIN HEIDEGGER (1889-1976) na Floresta Negra, refúgio onde o filósofo alemão certamente se inspirou para escrever o seu Caminhos da Floresta.
A cabana de Heidegger em Todtnauberg, na Floresta Negra da Alemanha
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Também são muitos os escritores que procuraram inspiração na solidão das suas cabanas. O irlandês GEORGE BERNARD SHAW (1856-1950) foi um deles. Autor de Um Socialista Insociável, um dos livros que mais me impressionou na minha adolescência, Bernard Shaw foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1926 e foi também um dos fundadores da prestigiada London School of Economics.
Bernard Shaw saindo de Londres, como ele chamava à sua cabana
A cabana de Shaw continua preservada nos nossos dias
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Outra famosa cabana é a da escritora VIRGÍNIA WOOLF (1882-1941), na qual esta destacada figura do Grupo de Bloomsbury (a que também pertenceram vultos como Clive Bell, Roger Fry, John Maynard Keynes) encontrava o recato indispensável para escrever obras como Mrs. Dalloway ou Orlando.
A cabana de Virginia Woolf, junto a um frondoso castanheiro
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O mais importante poeta galês DYLAN THOMAS (1914-1953) também tinha a sua pequena cabana para escrever, junto ao estuário do rio Taf, no País de Gales. O facto de o boémio Dylan Thomas ter morrido alcoolizado com apenas 39 anos de idade poderia fazer pensar numa vida longe da solidão de uma cabana. Mas foi aí que Thomas (a quem, já agora, o jovem Robert Zimmerman, autor de Blowin' in The Wind, pediu emprestado o apelido) encontrou provavelmente inspiração para o poema que celebra o seu trigésimo aniversário e que começa assim:
Era o meu trigésimo rumo ao céu
Quando chegou aos meus ouvidos, vindo do porto
E do bosque ao lado,
E da praia empoçada de mexilhões
E sacralizada pelas garças,
O aceno da manhã.
A cabana de Dylan Thomas junto ao estuário do Taf
Dylan Thomas junto à cabana
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O senhor Samuel Langhorne Clemens, conhecido como MARK TWAIN (1835-1910) usou duas e não apenas uma cabana para escrever. É no estado de Nova Iorque que se situa a cabana em que escreveu o seus mais importantes livros: As Aventuras de Huckleberry Finn e As Aventuras de Tom Sawyer.
A cabana de Mark Twain, no estado de Nova Iorque
Twain à janela da cabana
Menos usada foi a cabana do Colorado, mas onde escreveu também alguns ensaios.
A cabana de Twain no Colorado
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Por fim, refira-se a que é talvez a mais emblemática de todas as cabanas, construída com as próprias mãos de HENRY DAVID THOREAU (1817-1862) no Lago Walden (no Massachussets) para aí viver em completo isolamento da sociedade e em total comunhão com a natureza. Foi num terreno junto a esse pequeno lago, cedido pelo seu amigo Ralph Waldo Emerson, que Thoreau quis viver em regime de auto-suficiência e de que resultou a singular obra autobiográfica Walden ou a Vida nos Bosques, na qual declara:
Fui para os bosques viver de livre vontade,
Para sugar todo o tutano da vida...
Para aniquilar tudo o que não era vida,
E para, quando morrer, não descobrir que não vivi!
Uma réplica da cabana original de Henry Thoreau
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Sem dúvida que, ficcionais ou não, outras distintas cabanas haverá. Poderia referir, por exemplo, a inspiradora Cabana Junto à Praia, entre as dunas e os canaviais, que José Cid parece nunca ter chegado a esclarecer onde fica exactamente.
Faltou-te a cabana mais importante da filosofia, porque é ficcional: https://www.bloomsbury.com/us/glimpse-of-light-9781474279482/?utm_source=adestra&utm_medium=email&utm_content=more+info+»&utm_campaign=nl-solus_glimpse+of+light_jun17us
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