terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Dez boas canções pop-rock de 2024

Estas foram as 10 canções pop-rock de 2024 que me ficaram na memória (playlist abaixo). Claro que deu para ouvir apenas uma pequeníssima fracção do que foi produzido no ano que terminou. São sobretudo canções pop, mais do que rock, talvez porque encontro canções mais inventivas e interessantes na música pop do que propriamente no rock, que parece estar a envelhecer rapidamente. 

Talvez nem todas estas 10 canções sejam inesquecíveis. Por exemplo, o timbre do cantor dos suecos Kite pode tornar-se algo irritante após várias audições, assim como soa algo cansativa a guitarra de John Squire (o excelente guitarrista dos saudosos Stone Roses), ao contrário da voz de Liam Gallagher, que continua fantástica. Estas duas canções estão uns furos abaixo das restantes. 

Os álbuns de que estas canções fazem parte nem sempre são grande coisa, como é o caso de All Born Screaming, de St. Vincent, bastante fraquinho. É, de resto, curioso verificar que ela tem várias canções brilhantes e não consegue fazer um único álbum notável. É a mania de querer soar constantemente estranha e disruptiva. Em contrapartida, o álbum Charm, de Clairo, é bom do princípio ao fim. É uma espécie de versão pop do jazz de fusão de Annete Peacock. E há que realçar o surpreendente Nick Cave, que faz cada vez melhor música. Longe vão os tempos de juventude, em que Cave se perdia em vacuidades musicais, como as dos Birthday Party (sim, sim, era um murro no estômago, como se isso fosse uma categoria estética!). Wild God é, sem dúvida do melhor de 2024. E destaco ainda os Lo Moon, que trazem reminiscências dos esquecidos Bread, mas para melhor.

Registe-se ainda o regresso dos alemães Propaganda e também dos A Certain Radio. É agora a pop, com um toque de electrónica, a mostrar que não está esgotada. 

Rock and Roll is not dead. Certo, mas só porque tem andado andado a ser salvo pela pop. E muito bem.   

domingo, 19 de janeiro de 2025

O musicólogo da mathesis universalis

Compendium Musicae (Compêndio de Música) foi o primeiro livro que escreveu. E foi, afinal, o primeiro passo do ambicioso projecto que viria a ser designado de mathesis universalis. Lá se tenta mostrar como a união da matemática com a mecânica conseguem despertar certas paixões da alma. 

Nasceu em França, viveu vários anos na Holanda e morreu na Suécia. Em pouco mais de 50 anos de vida conseguiu revolucionar o pensamento filosófico. Mas licenciou-se em direito, não em filosofia. A sua mãe, Jeanne, faleceu quando ele era uma criança e o seu pai, Joachim, foi um parlamentar. Apesar de nunca ter casado, foi pai da menina Francine (uma filha ilegítima, como se dizia então), que morreu aos 5 anos de idade, causando-lhe o maior desgosto da sua vida.

De resto, foi um oficial militar orgulhoso, apesar de não ter chegado a combater. Também dava muita importância ao modo de vestir e preferia a companhia dos homens de negócios aos académicos e eruditos. O seu inimigo letal foi o rigoroso Inverno de Estocolmo, que o matou com uma pneumonia, em 1650. E foi assim que a rainha Cristina ficou sem o mestre particular de filosofia, que a muito custo ela convencera a rumar à Suécia.

Poucos sabem que ele escreveu sobre música. No entanto, o seu compêndio influenciou o célebre compositor Jean-Philippe Rameau, que também escreveu um Tratado da Harmonia Reduzido aos seus Princípios Naturais. Por outro lado, o compêndio foi criticado pelo filósofo e compositor Jean-Jacques Rousseau, o que não é de espantar, tendo em conta que Rousseau tinha a tendência para desprezar tudo o que não brotasse da sua mente brilhante. 

Claro que a produção posterior ao Compêndio acabou por ofuscar irremediavelmente esta pequena obra de estreia. E assim se tem mantido na penumbra. Contudo, não deixa de ser a primeira peça da tal mathesis universalis.