domingo, 30 de outubro de 2011

Filosofia para toda a gente


São dez e não sete as razões que Desidério Murcho nos oferece para ler este seu último livro, acabadinho de publicar pela editora Bizâncio. Além das sete razões que constituem as 7 Ideias Filosóficas Que Toda a Gente Deveria Conhecer, juntam-se outras três boas razões: a informação que introduz e contextualiza de forma interessante essas ideias; a clareza da exposição; e, não menos importante, o constante estímulo a que os leitores pensem por si sobre o que lêem. 

Mas, de que ideias fala o livro? Na verdade, são ideias que quase todas as pessoas que se dizem cultas e informadas parecem conhecer, mas cujo sentido frequentemente lhes escapa. De facto, muitas pessoas dizem, como Aristóteles, que no meio é que está a virtude. Mas compreenderão mesmo as razões que sustentam tal afirmação? E o mesmo se pode perguntar sobre afirmações tão célebres como "Penso, logo existo" ou "Eu só sei que nada sei", entre outras. São ideias filosóficas como estas que Desidério Murcho procura esclarecer, evitando cair nos lugares comuns mil vezes repetidos e mil vezes vazios.  

As sete ideias referidas no título são ideias centrais acerca do nosso conhecimento do mundo ("Penso, logo existo", Eu só sei que nada sei" e "Despertar do sono dogmático"), sobre ética ("No meio é que está a virtude"), sobre filosofia política (A guerra de todos contra todos"), sobre filosofia da religião ("Maior do que o qual nada pode ser pensado") e sobre filosofia da linguagem (Uma rosa com outro nome). 

Quase todas estas ideias são tratadas nas aulas de filosofia do 10º e do 11º anos de Filosofia e dizem respeito a filósofos como Sócrates, Aristóteles, Anselmo, Descartes, Hobbes, Hume, Kant, Frege e Rawls, entre outros. Uma das vantagens deste livro é que nele tais ideias não são tratadas de forma escolar.

O livro lê-se quase de um só fôlego e, quando chegamos ao fim, ficamos a compreender melhor por que razão essas ideias filosóficas são, afinal, grandes ideias. Por isso, este é um livro que toda a gente devia ler.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sentido na vida

Muito provavelmente todos nós desejamos encontrar sentido nas nossas vidas. Mas por que razão é importante ter vidas com sentido e o que é uma vida com sentido? Estas são questões filosóficas para as quais algumas religiões oferecem resposta. Mas quem acha estas questões importantes e não se satisfaz com as respostas religiosas, tem aqui um excelente livro para ler. 

Trata-se de um livro muito recente, escrito por Susan Wolf, uma filósofa que se tem destacado na discussão deste tema. O livro inclui no final alguns comentários críticos de outros filósofos e a resposta da autora a esses comentários. Tudo numa linguagem simples (mas não simplista) e acessível. O livro é publicado pela editora Bizâncio e foi traduzido por Desidério Murcho, co-autor do manual de Filosofia A Arte de Pensar, adoptado na nossa escola.

Já agora, faço um desafio aos leitores: as questões tratadas no livro inserem-se no âmbito de que disciplina filosófica? Podem deixar a vossa resposta na caixa de comentários.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Filosofia é filosofia


Parece algo estranho e pouco informativo afirmar que filosofia é filosofia. Mas, quando ouvimos tantas vezes dizer que a filosofia é uma ciência ou associar a filosofia à poesia e descrevê-la como uma forma de arte, talvez valha a pena reafirmar o óbvio.

Ao contrário do que frequentemente se diz, a filosofia não é ciência, não é arte e não é religião. Daqui não se segue que a filosofia não partilhe algumas características com a ciência, a arte e a religião.

Por exemplo, a ciência, tal como a filosofia, procura resolver problemas através de teorias. Mas são muito diferentes quanto ao tipo de problemas que lhes dizem respeito. Por sua vez, a religião oferece respostas para alguns dos problemas filosóficos. Contudo, as respostas da religião não são filosóficas porque, ao contrário do que se passa na filosofia, tais respostas não são o resultado de um processo essencialmente crítico. Já a arte é frequentemente crítica, como a filosofia. Mas, ao contrário da filosofia, a arte não procura resolver problemas apresentando teorias. 

Assim, todas estas quatro grandes áreas culturais são diferentes. Mas dizer que são diferentes não é o mesmo que dizer que nada têm em comum. Em suma, a filosofia é filosofia; a ciência é ciência, a religião é religião e a arte é arte, mesmo que partilhem algumas características e mesmo que por vezes se contaminem mutuamente.