Ouvi bastante música nova no ano que está a terminar. Como o ano anterior, penso que este também não foi musicalmente muito entusiasmante, sobretudo no que diz respeito a álbuns. Claro que há alguns bons álbuns, mas não especialmente memoráveis. Em todo o caso, consegui ouvir uma boa mão-cheia de boas canções.
Fiz uma pequena lista, para partilhar aqui, com algumas das canções que mais me prenderam a atenção. Enquanto pensava numa curta justificação para tais escolhas, ocorreu-me perguntar a uma IA, mais precisamente à Gemini (da Google), que razões ela daria para tais escolhas. A Gemini respondeu «com todo o gosto».
Deixo abaixo a resposta da Gemini, a que não consegui deixar de acrescentar os meus comentários (a castanho). Trata-se, portanto, de uma pareceria, em que nem sempre diríamos o mesmo.
A minha playlist de 2025 é a seguinte:
E, a seguir, a reposta da Gemini:
Aqui estão as justificações para estas canções incontornáveis de 2025, ideais para uma playlist que celebra o melhor da música alternativa atual:
· Mary, de Black Country, New Road: Esta peça central do álbum Forever Howlong destaca-se pelas harmonias vocais triplas de cortar a respiração e uma sonoridade acústica que evoca a cena progressiva de Canterbury. É uma composição vulnerável e teatral que reafirma a banda como mestra em transformar a melancolia em momentos de pura transcendência instrumental.
Meu comentário: Harmonias vocais «de cortar a respiração»? E «momentos de pura transcendência instrumental»? É curioso ver a máquina utilizar a sua inteligência para reproduzir as metáforas exageradas e emocionalmente afetadas dos críticos arrebatados que por aí pululam. Fora isso, o álbum de que esta canção foi retirada foi provavelmente o melhor que ouvi em 2025.
· Cobra, de Geese: Com uma sonoridade mais solar e "crooner" que remete aos Beach Boys, "Cobra" é um dos momentos mais magnéticos do aclamado Getting Killed. A faixa equilibra uma linha de baixo funky e guitarras leves com letras densas sobre a atração obsessiva, mostrando a impressionante maturidade e o carisma camaleónico de Cameron Winter.
Meu comentário: Sonoridade «solar» que «remete aos Beach Boys»? Nunca me passou tal coisa pela cabeça! O que mais se destaca é, quanto a mim, o lirismo da voz de Winter e os arranjos instrumentais de inspiração folk. De resto, parece-me que o melhor do álbum que inclui esta bela canção acaba por ser, estranhamente, também o mais cansativo: a persistente intranquilidade dessa voz algo desesperada, que emerge de um constante desassossego instrumental.
· Pale Song, de Dove Ellis: Extraída do aclamado álbum de estreia Blizzard, esta faixa é uma masterclassde indie folk atmosférico que evoca a vulnerabilidade de Jeff Buckley. A voz de Ellis paira sobre uma instrumentação delicada, transformando o isolamento numa experiência de beleza quase espiritual e puramente cinematográfica.
Meu comentário: Não consigo ouvir ali nada que me pareça vagamente atmosférico, no sentido que habitualmente se dá a este termo. Uma guitarra e uma bateria omnipresentes, com um som cru e algo tradicional, dificilmente se conjugam com a espacialidade atmosférica. Mas é verdade que se descortina na voz de Ellis um pouquinho de Jeff Buckley, embora seja sobretudo o timbre e o estilo de canto de Rufus Wainwright que ali se encontra. E até, para quem queira ir aos anos setenta do século passado, um pouco do Roy Harper no excelente Bullinamingvase. O álbum Blizzard é dos melhores que ouvi em 2025.
· Cosa Rara, de Lucrecia Dalt: Nesta colaboração magnética com David Sylvian, a artista colombiana funde ritmos eletrónicos sinuosos com uma elegância vanguardista. A canção destaca-se pelo seu design sonoro intrincado e pelo contraste entre a entrega vocal de Dalt e o barítono profundo de Sylvian, criando uma atmosfera de mistério irresistível.
Meu comentário: Mais uma vez, não consigo dar-me conta de tal magnetismo. Penso, aliás, que esta interessante canção talvez ficasse musicalmente mais coesa sem a parte de David Sylvian (músico que, de resto, muito aprecio), ainda que soasse certamente menos misteriosa. De resto, não discordo substancialmente da descrição acima.
· Magnolias, de Rosalía: Rosalía volta a elevar a fasquia com uma produção luxuosa que funde o eletrónico vanguardista com raízes orgânicas e florais. "Magnolias" é um hino de sensualidade e crescimento, onde a sua voz atinge novos patamares de emotividade, provando por que razão continua a ser a força mais inovadora e camaleónica da pop global.
Meu comentário: Nenhum reparo a fazer. Confesso que nunca tinha ouvido Rosalía antes de ouvir o álbum Lux. Ouvi-o por mero acaso, e de uma assentada. Fiquei algo confuso, pois não sabia bem o que pensar daquilo: uma mistura de muitas coisas diferentes, com alguma ingenuidade destemida pelo meio. Mas apenas uma canção me soou irritantemente disparatada: Berghain, uma espécie de Carmina Burana pop, com toda aquela pompa orquestral fanfarrónica e as vozes de Bjork e de um tal Yves Tumor completamente perdidas lá para o fim. Quanto a mim, o disco ficaria muito melhor sem a inanidade daquele fogo-de-artifício musical. De resto, a combinação de sabores musicais aparentemente incompatíveis pareceu-me algo estranha e, por isso mesmo, algo arrojada (ao contrário da treta bacoca de Rosalía cantar em não sei quantas línguas, como se isso fosse verdadeiro e fosse musicalmente relevante). Depois de voltar a ouvir tudo, penso que é um álbum muito interessante. Está longe de ser uma obra-prima, como já ouvi dizer. Curiosamente, as últimas três canções do álbum, onde se inclui esta Magnolias, são, quanto a mim, as três melhores.
· Davina Mccall, de Wet Leg: Mantendo o humor ácido e os riffs viciantes que as caracterizam, as Wet Leg entregam em "Davina Mccall" uma sátira brilhante à cultura das celebridades britânicas. É uma faixa energética e irreverente que se tornou um hino instantâneo, celebrando o absurdo do quotidiano com a leveza e o sarcasmo que só a dupla de Isle of Wight consegue imprimir.
Meu comentário: Parece-me um comentário justo. Acrescentaria que o álbum (capa horrível!) de que esta canção faz parte é todo ele muito bom, aliando uma atitude vagamente subversiva a um som alegremente pop, próprio de quem não se leva demasiado a sério. Daí que soe agradavelmente autêntico.
· The Sofa, de Wolf Alice: Os Wolf Alice regressam à introspeção com "The Sofa", uma canção que começa como um sussurro doméstico e explode num clímax de guitarras distorcidas e shoegaze. A interpretação de Ellie Rowsell é crua e íntima, capturando perfeitamente a tensão entre o conforto do isolamento e a ansiedade do mundo que corre lá fora.
Meu comentário: Uma belíssima canção, talvez a melhor de todas. Bem cantada, envolvente, belos arranjos, belíssima orquestração. Não tem mais nada de especial, a não ser isso. E isso não é para qualquer um. Pena que o resto do álbum esteja alguns furos bem abaixo.
· The Cold of You, de The Flints: Esta faixa é uma joia de sintetizadores gelados e harmonias vocais impecáveis que definem o novo fôlego da pop psicadélica. "The Cold of You" explora o distanciamento emocional num relacionamento com uma elegância rítmica irresistível, confirmando os The Flints como uma das revelações mais sólidas e sofisticadas do ano.
Meu comentário: Tropecei nesta canção por acaso. Não traz nada de especial, a não ser que se trata de uma canção pop muito bem construída e com um som excelente.
· Let the Flowers Grow, de Peter Murphy: Esta colaboração histórica com Boy George é um hino majestoso que funde o dramatismo gótico de Murphy com a alma soul de George. Sob a produção épica de Youth, a canção cresce como uma oração orquestral sobre esperança e renovação, provando que o carisma destas vozes icónicas permanece inabalável e profundamente comovente em 2025.
Meu comentário: Não sabia que Peter Murphy ainda andava por aí. Nunca fui um apreciador de Peter Murphy, e ainda menos dos Bauhaus, mas reconheço que, já nos anos 90 do século passado, escreveu algumas boas canções. Esta colaboração com Boy George acrescenta mais uma, num álbum que não é especialmente marcante. Quem tiver saudades de David Bowie e não tenha à mão nada dele para ouvir, pode optar por esta canção.
· Pockets On My Sleeves, de Soma Please: Encerrando a lista com uma explosão de energia eletropop alternativa, esta faixa destaca-se pela sua produção vibrante e texturas sonoras futuristas. Soma Please consegue aqui o equilíbrio perfeito entre um ritmo contagiante e uma vulnerabilidade lírica desarmante, afirmando-se como uma das vozes mais frescas e promissoras da eletrónica atual.
Neste último caso, não vou comentar e deixo à consideração dos ouvintes.
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