sábado, 15 de setembro de 2018

As melhores 15 sinfonias?

Ao pôr em ordem os CDs que tinha aqui desarrumados, reparei nas várias gravações das sinfonias e ocorreu-me destacar as minhas preferidas. Claro que há muitas sinfonias que não conheço ou de que não tenho qualquer gravação em disco. Penso, contudo, que tenho uma razoável colecção, incluindo diferentes gravações e intérpretes das principais obras.

A foto abaixo mostra as que, na minha atrevida opinião de leigo, são as 15 melhores sinfonias. É um gosto pessoal, claro, e como quase todos os gostos, eles dificilmente surgem do mero acaso, sendo antes cultivados e moldados pelo que se vai ouvindo, lendo e conversando sobre o assunto.

Algumas pessoas mais entendidas poderão achar estranho esta lista não incluir qualquer sinfonia de Haydn, por exemplo, que compôs mais de uma centena. Tenho de confessar que, ao contrário dos seus maravilhosos quartetos de cordas, não sou grande apreciador das sinfonias de Haydn, que me parecem quase todas iguais e algo aborrecidas. 

Em contrapartida, há sinfonias de outros compositores de que também gosto muito e que não couberam aqui. Destaco, por exemplo, a N.º 9 de Dvorak, a N.º 7 de Sibelius, a N.º 6 de Tchaikovsky ou a belíssima N.º 2 de Glazunov, para dar apenas alguns exemplos.

As quinze preferidas são, enquanto não mudar de opinião, as seguintes (por ordem aproximadamente cronológica).


1. Mozart, Sinfonia N.º 41 (Júpiter). O disco da foto inclui as duas últimas sinfonias do génio de Salzburgo, a N.º 40 e a N.º 41, ambas dirigidas por Georg Solti (DECCA). Também gosto muito da N.º 40, mas a grandiosidade da Júpiter parece trazer algo de novo, apontando já para o romantismo.

2. Beethoven, Sinfonia N.º 3 (Heróica). Por falar em romantismo, é nesta sinfonia que o romantismo musical começa por se afirmar claramente. Nesta gravação da foto, a Cleveland Orchestra é dirigida por George Szell (Sony).

3. Beethoven, Sinfonia N.º 9 (Coral). Claro que esta obra impressionante não poderia faltar, numa gravação histórica de Karajan dirigindo a Filarmónica de Berlim (DG).

4. Berlioz, Sinfonia Fantástica. Também esta é uma obra única, aqui numa gravação de referência, com Colin Davis à frente do Concertgebouw de Amsterdão (Philips). Tive o enorme prazer de ver ao vivo Colin Davis, já na fase final da sua carreira, a interpretar esta sinfonia. Foi marcante.

5. Bruckner, Sinfonia N.º 3, na interpretação do legendário Celibidache à frente da Filarmónica de Munique (EMI). Ainda bem que, após a morte do maestro, a família não manteve a sua decisão de não publicar as interpretações que tinha gravado ao vivo. A interpretação de Celibidache destaca-se de quase todas as outras, sobretudo por optar por um tempo claramente mais lento.

6. Bruckner, Sinfonia N.º 4 (Romântica). Não gosto menos desta sinfonia de Bruckner do que da anterior. Neste caso, a gravação que mais aprecio é a de Otto Klemperer com a Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera (EMI).

7. Bruckner, Sinfonia N.º 8. Não podia deixar de incluir esta gigantesca sinfonia de Bruckner, numa gravação histórica (2 CD) de Karajan com a Filarmónica de Berlim (DG). É preciso ter a disposição certa para os mais de oitenta minutos que nos esperam, ainda por cima quando o característico estilo de Bruckner, que parece incluir uma espécie de colagem de mini-andamentos dentro do mesmo andamento — bem, isto é apenas um leigo a falar — exige algum fôlego auditivo. Mas, mesmo os ouvintes mais renitentes serão incapazes de resistir ao incomparável adágio do terceiro andamento. Quase nos faz levitar.

8. Brahms, Sinfonia N.º 4. Todas as quatro sinfonias de Brahms são belíssimas, mas a última consegue destacar-se. A contenção e equilíbrio das sinfonias de Brahms fazem um bom contraste com a opulência de Bruckner e outros compositores românticos. Proponho a gravação da Filarmónica de Viena, dirigida por Carlos Kleiber (DG).

9. Mahler, Sinfonia N.º 2 (Ressurreição). Eis outra sinfonia com mais de oitenta minutos, pelo menos nesta interpretação de Simon Rattle, quando ainda dirigia a Orquestra Sinfónica da Cidade de Birmingham e com o Coro da mesma cidade, contando também com o soprano Arleen Augér e o mezzo-soprano Janet Baker (EMI). Que eu conheça, poucas sinfonias começam de uma forma tão magnética. Esta é uma gravação de referência. Tive a felicidade de ver ao vivo a mesma obra dirigida por Claudio Abbado, com perto de duzentos intérpretes em palco, e também foi memorável.

10. Mahler, Sinfonia N.º 5. Não, não é apenas por causa do famosíssimo adagietto do terceiro andamento (celebrizado também pelo filme de Visconti Morte em Veneza). O meu andamento preferido é, de resto, a envolvente marcha fúnebre do primeiro andamento. A gravação que aqui proponho é a de John Barbirolli à frente da New Philharmonia Orchestra (EMI).

11. Janácek, Sinfonietta. É o caso que me deixa mais dúvidas quanto à inclusão nesta lista. Mas talvez se justifique por ser bastante diferente das sinfonias anteriores, destacando-se o seu optimismo, a começar pela fanfarra do primeiro andamento, em que as cordas não participam. A gravação cuja capa se vê na foto é dirigida Rafael Kubelik, à frente da Orquestra Sinfónica da Radio da Baviera, uma gravação aclamada pela sua qualidade (DG).

12. Stravinsky, Sinfonia em Dó. Foi no período neoclássico que Stravinsky compôs três das suas quatro sinfonias. A Sinfonia em Dó tem dois andamentos compostos quando ainda vivia na Europa e outros dois compostos quando já estava nos Estados Unidos. O disco aqui proposto inclui dois CDs com as quatro sinfonias de Stravinsky, dirigidas pelo próprio compositor e também interessantes gravações de conversas e de ensaios dele com a Columbia Symponhy Orchestra. Na Sinfonia em Dó Stravinsky dirige a CBC Symphony Orchestra (Sony). Além desta sinfonia, destaco ainda, no mesmo disco, a belíssima Sinfonia de Salmos.

13. Chostakovich, Sinfonia N.º 5. Sem dúvida, uma das minhas sinfonias preferidas, a quinta de Chostakovich está aparentemente repleta de ambiguidades desconcertantes: ora parece a voz de uma certa amargura ora de um incontido entusiasmo, ora hesitante ora afirmativa, ora contemplativa e melancólica ora irrequieta, exuberante e até festiva, tudo isso urdido de forma brilhante. Consta que, nesta obra, Chostakovich tinha urgentemente de dar provas de fidelidade a um ideário estético oficial e de, assim, ser também forçado a camuflar as suas próprias convicções musicais. O resultado desta condição artística algo esquizofrénica foi uma verdadeira obra-prima. A gravação aqui proposta é dirigida por Leonard Bernstein à frente da Filarmónica de Nova Iorque (Sony).

14. Messiaen, Turangalîla-Symphonie. Entre os vários aspectos interessantes desta sinfonia em 10 andamentos destaco o uso inovador das ondas Martenot, o instrumento electrónico que mais tarde viria também a ser usado em várias canções do album Kid A, dos Radiohead, assumidamente influenciados pelo compositor francês. Destaco também o belíssimo, envolvente e amoroso sexto andamento, intitulado precisamente Jardin du sommeil d'amour. No disco aqui proposto a Royal Concertgebouw de Amsterdão é dirigida por Riccardo Chailly (DECCA).

15. Górecki, Sinfonia N.º 3. Termino com aquela que é, sem dúvida, a mais popular sinfonia composta no último meio-século, um verdadeiro best seller musical em vários países. Depois de uma fase mais vanguardista, como quase todos os compositores da sua geração, o compositor polaco envereda nesta sinfonia em três andamentos pela composição tonal. O resultado é uma obra simultaneamente intensa e apaziguadora. O segundo andamento, cantado neste disco pelo soprano Dawn Upshaw, é talvez a melhor ilustração do nome por que esta sinfonia também é conhecida: Sinfonia das Canções Tristes. Aqui David Zinman dirige a London Sinfonietta (Elektra Nonesuch).

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