quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Dia mundial da filosofia: respeitar os filósofos

Hoje é o dia mundial da filosofia. Acho que um dia só é pouquíssimo.
Para assinalar este dia, pediram-me para escrever um texto sobre algumas afirmações célebres de filósofos à minha escolha. Deixo-vos aqui o texto com o resultado das minhas reflexões filosóficas, esperando que mostrem algum respeito, mas nenhum respeitinho, nos vossos comentários.


Respeito pelos filósofos

Há quem encare os filósofos como deuses ou como sábios: com muito respeitinho, não ousando discordar deles. Para essas pessoas, as palavras de um filósofo são como a voz de um oráculo que, em vez suscitar discussão, é preciso aceitar e repetir respeitosamente. Mas isso é a própria negação da filosofia, pois é um convite à suspensão da nossa capacidade crítica.

Olhar para os filósofos desta maneira é confundir filosofia com religião. Além de que, por incrível que possa parecer a algumas pessoas, os filósofos são seres humanos como os outros: comem, dormem, amam, choram, vão à praia, usam telemóvel e... erram. Assim, a melhor maneira de respeitar um filósofo é encará-lo simplesmente como filósofo – não como pregador – discutindo criticamente as suas ideias. O que os filósofos querem é respeito, não respeitinho.

Eis, pois, algumas afirmações de filósofos importantes que, com o devido respeito, me parecem disparatadas:

Do que não se pode falar, há que ficar em silêncio. Wittgenstein, o autor desta afirmação, considerava que o mais importante é precisamente o que não pode ser dito. Mas deverá esta afirmação ser levada a sério? Se sim, Wittgenstein está a ser incoerente, pois está a exprimir algo acerca do que não se pode falar. Razão parece ter um outro filósofo, Frank Ramsey, ao comentar que o que não pode ser dito nem sequer pode ser assobiado. Pelo que se vê, Wittgenstein fez mais do que assobiar, pois não conseguiu ficar em silêncio acerca do que não se pode falar.

Até aqui os filósofos têm-se dedicado a interpretar o mundo, porém o que importa é transformá-lo. Marx, autor da frase, dava uma prioridade à praxis (prática ou acção) em relação à teoria. Mas há demasiados exemplos de que a prática, quando não é iluminada por uma compreensão prévia da realidade, acaba por se tornar cega e mesmo perigosa. Como sabemos o que transformar ou sequer se podemos mudar o que ainda não tentámos compreender? E será que é realmente importante mudar o que eventualmente possa estar bem? Não será fundamental saber antes o que está bem ou mal e porquê para sabermos se vale realmente a pena mudar seja o que for? Assim, a ideia subjacente de que a teoria e a prática são coisas divergentes é manifestamente errada e até perigosa.

O que não me mata torna-me mais forte. Disse-o Nietzsche, mas também o dizia a minha avó, que nunca ouviu sequer falar de Nietzsche. E até já a avó da minha avó o dizia também, só que de uma forma ligeiramente diferente: o que não mata engorda. Mas basta pensar um pouco para ver que tanto Nietzsche como a minha avó foram algo precipitados a tirar conclusões, o que se desculpa mais à minha avó do que a Nietzsche. A ideia de Nietzsche é a de que a vida é para ser vivida sem restrições, sem disfarçar a dor e a alegria, como acontece com os mais fortes e corajosos, que nada rejeitam. Assim, dar o peito às balas é próprio dos mais fortes. Só que há balas que não matam mas moem, deixando-nos fracos e feridos para o resto da vida. Nem Nietzsche nem a minha avó foram capazes de evitar uma falácia muito comum: a falácia da generalização precipitada.

Claro que as frases destes filósofos têm mais que se lhes diga e o contexto em que foram produzidas pode dar-lhes outro sentido. Mas tem de se começar a discussão por algum sítio e isto é só um princípio de discussão.

Com muito respeito, mas sem qualquer respeitinho.

5 comentários:

  1. Deram conta do dia da filosofia? O que têm a dizer?

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  2. Acho que em todos os dias lidamos com a Filosofia, logo, nao é correcto haver apenas um dia da filosofia.
    ésta é apenax a minha opiniao.
    peço desculpa pela invasão deste blog
    Tiago Pedrosa.
    Porto

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  3. Todas as invasões do blog são bem vindas, desde que bem intencionadas. Obrigado pela invasão, Tiago.

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  4. Antes de mais achamos que a imagem foi muito bem escolhida Stor, também conhecemos e gostamos mas será que tem alguma coisa a ver com o assunto estamos a tratar? cada um tem a sua interpretação mas gostavamos de saber a sua!

    Dia Mundial da Filosofia

    "O que não me mata torna-me mais forte" - Já tinhamos ouvido esta espressão numa prespectiva diferente ou melhor pensamos nós! Apresebemo-nos disso em alguns textos noutras disciplinas,como Português, e chegamos há conclusão que a utilização de expressões filosóficas são muito frequentes em textos Portugueses.
    A filosofia "persegue-nos"(no bom sentido) para onde quer que vamos.

    Abraço Stor

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  5. Entrei neste blog a fim de busacar mais respostas para as questões basicas da vida ou melhor ,da existência.A meu ver precisamos delas para percorermos a nossa jornada.Penso q se fossemos resumir tais questões nos deparariamos com no mínimo 5 importantes indagações,cito:1-Origem(de ond viemos?)2-identidade(quem sou eu?) 3-Propósito(Pq estamos aqui?)4-Moralidade(Como devo viver aqui?)5-Destino(Pra ond vou?).Essas questões são interdependentes de modo q se alguém se propõe a responder uma ,tem q necessariamente responder todas.A proposito gostaria de ter conhecido a vovó filosofa do Aires,talvez ela pudesse nos ajudar.Com carinho para apreciação de todos deixo esse comentario

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