sexta-feira, 27 de maio de 2016

Filosofia Aberta na feira

A Feira do Livro de Lisboa já abriu e é uma boa oportunidade para encontrar bons livros de filosofia a preços reduzidos. Alguns títulos da colecção Filosofia Aberta (Gradiva) estão esgotados, mas quem sabe se não se descobre por lá algum exemplar desses. Uma novidade: estão já disponíveis os mais recentes títulos da colecção, acabados de publicar: Socialismo. Porque Não?, do filósofo marxista G. A. Cohen, e Capitalismo. Porque Não?, a resposta do filósofo Jason Brennan.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Socialismo ou capitalismo?

Dois curtos mas muito interessantes livros, da autoria de dois excelentes filósofos. Não, não se trata de panfletos nem de lugares-comuns, mas de boa argumentação filosófica. Ainda por cima são livros muito acessíveis e que se lêem com prazer. Estarão nas livrarias ainda este mês de Maio e tive muito gosto em contribuir modestamente para isso.



sábado, 7 de maio de 2016

O que se ensina nos cursos de filosofia?

Há, salvo erro, oito universidades públicas portuguesas onde se pode estudar filosofia. Escolha é coisa que parece não faltar, até porque os planos curriculares dos cursos são bastante diversificados: há-os mais abertos e mais fechados, mais actuais e mais tradicionalistas, mais contidos e mais abrangentes, mais históricos e mais filosóficos, etc. E há também coincidências e ausências curiosas. 

Os quadros aqui apresentados foram elaborados por mim com base na consulta dos planos curriculares de licenciatura que se encontram nas páginas oficiais das universidades: UL, UP, UC, UM, UBI, UA, UE e UNL. Não sei se todas estas universidades tiveram procura suficiente para terem actualmente o curso de licenciatura a funcionar, mas esse é outro assunto. 

O primeiro quadro abaixo mostra a oferta das principais disciplinas filosóficas, as mais centrais. Claro que não há consenso quanto à centralidade de algumas destas disciplinas. Se a História da Filosofia, a Metafísica, a Teoria do Conhecimento, a Ética e a Lógica não levantam grandes dúvidas, talvez não seja o caso da Estética, da Filosofia Política, da Filosofia da Religião, da Filosofia da Ciência, da Filosofia da Mente e da Filosofia da Linguagem. Contudo, a quantidade de publicações nas diversas áreas filosóficas e uma breve visita aos planos curriculares das mais conceituadas universidades mundiais apontam claramente para o elenco de disciplinas aqui listadas.

A bola branca significa que a disciplina é obrigatória; a bola preta que nem sequer é oferecida; o X indica que se trata de uma disciplina opcional.

A primeira coisa que sobressai é que, exceptuando a História da Filosofia (antiga, medieval, moderna e contemporânea), nenhuma outra disciplina é obrigatória em todas as universidades. A Teoria do Conhecimento, a Lógica e a Ética são, depois da História da Filosofia, as mais consensualmente obrigatórias. 

Em sentido oposto, surpreende que uma das disciplinas filosóficas em que a discussão tem sido mais intensa nas últimas décadas, a Filosofia da Mente, nem sequer como opção aparece em cinco das oito universidades portuguesas. E algo parecido se passa com a Filosofia da Linguagem, que nem opção é em três delas.

Mais surpreendente ainda é a Metafísica ser obrigatória em apenas duas universidades e nem como opção constar em três outras universidades. É certo que estas oferecem Ontologia, que faz parte da metafísica, como disciplina obrigatória. Mas a ontologia deixa de fora problemas metafísicos importantes como os do livre-arbítrio, causalidade e determinismo, mas também as questões do espaço e do tempo, da identidade e persistência ao longo do tempo ou ainda da modalidade, entre outras questões.

Quanto às universidades, destaca-se a de Coimbra, em que só a História da Filosofia (antiga, medieval, moderna e contemporânea) é obrigatória. É certo que o elenco de disciplinas opcionais é relativamente restrito, mas não deixa de ser possível alguém concluir a licenciatura sem ter estudado Teoria do Conhecimento, Ética, Lógica e Filosofia Política, por exemplo. 

Inversamente, nos Açores e na Beira Interior há uma extensa lista de disciplinas obrigatórias, com um reduzido peso de disciplinas opcionais — isto torna-se mais claro quando se consultam também os dois quadros abaixo.

A Universidade de Lisboa é a que, em minha opinião, oferece uma melhor combinação de disciplinas obrigatórias — as que são realmente mais centrais — e opcionais.

O quadro seguinte inclui disciplinas que algumas universidades dão como obrigatórias, outras como opcionais e outras que nem sequer as têm para oferecer. 

Duas disciplinas se destacam neste quadro: a Antropologia Filosófica e a Filosofia em Portugal. Posso estar mal informado, mas não tenho conhecimento de grande produção ou discussão filosófica na área da antropologia filosófica — se comparada com outras áreas disciplinares. Contudo, as universidades portuguesas atribuem-lhe mais importância do que à Metafísica, à Filosofia da Ciência ou à Filosofia da Mente. E será que a filosofia em Portugal é também mais relevante do que estas disciplinas? Será, por exemplo, que os cursos das universidades brasileiras incluem uma disciplina de Filosofia no Brasil? Nas universidades inglesas não encontrei qualquer disciplina de Filosofia em Inglaterra ou de Filosofia Britânica. E o mesmo se passa nos cursos de filosofia das universidades francesas.

A Universidade dos Açores tem a particularidade de incluir como disciplinas obrigatórias a História de Portugal (de diferentes períodos), a Literatura Portuguesa, a História dos Açores e Estudos Culturais. Mas isso acontece porque não se trata de um curso de filosofia apenas, mas de Filosofia e Cultura Portuguesa. 

O quadro seguinte inclui apenas algumas das numerosas disciplinas opcionais nas diferentes universidades.

Algumas universidades, como a de Évora, oferecem um extenso leque de disciplinas opcionais. Certamente que este leque de disciplinas acaba, na prática, por se reduzir bastante, pois terá de haver um número mínimo de inscritos para o seu funcionamento, mas a oferta não deixa de ser exuberante. Outras universidades, como a do Minho, oferecem também um extenso leque de disciplinas opcionais não filosóficas (por exemplo, línguas estrangeiras, economia, etc.), que não cabem neste resumido quadro. 

Finalmente, fiquei surpreendido por não ter encontrado sequer como opção a disciplina de Filosofia do Ambiente em nenhuma universidade, que supunha ser bastante popular. O mais próximo disso é a disciplina de Filosofia do Habitat, como opção na UBI.