sábado, 14 de setembro de 2024

Plano pessoal de leitura

Parece que os clássicos foram a porta de entrada de muitos para o mundo da leitura. Mesmo que não tenham sido os clássicos da literatura ocidental (consta que Freud já lia Platão em grego ainda antes dos dez anos de idade), muitos começaram pelos clássicos da chamada literatura infanto-juvenil: O Principezinho, A Volta ao Mundo em 80 Dias, as Aventuras dos Cinco, As Aventuras de Pinóquio, As Aventuras de Tom Sawyer, As Aventuras de Gullliver, etc.  

Não foi o meu caso. A minha entrada deve-se aos pequenos livros de cowboys que os mais velhos emprestavam aos mais novos. Cabiam no bolso das calças e os seus autores não ficaram para a história. Um desses autores era o misterioso Ross Pynn, que era afinal um tal Roussado Pinto. Estou a falar dos livros da colecção 6 Balas e também do Texas Jack, que eram histórias passadas no farwest americano. Tinham de ser encomendados por carta (com o dinheiro lá dentro) e chegavam pelo correio quase duas semanas depois à pacata aldeia do interior. Como eram vários amigos a poupar uns tostões para encomendar, acabava por haver uma quantidade apreciável de livros para a troca entre nós. Claro que, ao fim de umas dezenas de livrinhos, dava para ver que eram quase sempre as mesmas histórias. 

Foi, então, preciso passar para algo mais subtil, misterioso e sofisticado: os policiais da Colecção Vampiro. Aqui já havia autores de respeito, como Georges Simenon, Agatha Christie, Dashiell Hammett, Rex Stout, Patricia Highsmith, Raymond Chandler e Earle Stanley Gardner. Este publicava também sob os nomes A. A. Fair e S.S. Van Dine. 

O passo seguinte foi dado com os livros do Círculo de Leitores, de venda ao domicílio para subscritores. Mas só depois de várias decepções (por exemplo, A Peste, de Camus) é que fiquei verdadeiramente entusiasmado com duas grandes obras literárias: Bel-Amy, de Maupassant, e As Vinhas da Ira, de Steinbeck.

Entretanto, este filão acabou por ser interrompido pelo 25 de Abril. Aí foi inevitável ler sobre política e ler também os autores revolucionários que a «carrinha dos livros» (isto é, a biblioteca itinerante da Gulbenkian) trazia uma vez por mês. Foi, então, a altura de ler Baal Babilónia, do anarquista espanhol Arrabal, o Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels, e outras coisas que agora não interessam a quase ninguém, como O Que é a Política?, de Julien Freund (como era incrivelmente má a capa deste livro!).

E assim se fez um plano pessoal de leitura.


  

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