domingo, 20 de dezembro de 2009

argumentos de carácter emocional


Na ultima aula de filosofia, o Prof. Aires chamou-me a atenção para o uso de argumentos de carácter emocional, no post do vegetarianismo, porque os nossos argumentos devem ser sempre racionais, caso contrário não são 100% filosóficos dado que a base da filosofia é a razão. Eu concordei com ele, se não fosse a razão o nosso guia filosófico, então muito provavelmente perdiamo-nos muitas vezes. Mas não sei porquê, naquele dia pus-me a pensar e cheguei à conclusão de que afinal, na minha opinião, claro está, a maioria, se não todos os argumentos têm uma base emocional, mesmo aqueles que parecem mesmo frios e desprovidos de algo mais que a razão. Ora vejamos, nós argumentamos para tentarmos convencer os outros de que estamos certos, e assim se conseguir chegar a uma verdade na discussão filosófica. Porém, por detrás daquilo que argumentamos costuma estar um desejo ou um medo, que são emoções. Por exemplo, no post do vegetarianismo, o Sérgio argumentava, porque na verdade gostava de comer carne e queria continuar a comê-la sem se sentir mal e a Lúcia argumentava porque tinha uma empatia pelos animais que não a deixava comer carne e que a faria achar que ninguém devia. Hittler argumentava contra os judeus, pois eles dominavam a economia e ele desejava que fossem os arianos, estando com medo de ser controlado por alguém que não fosse da sua raça, e os que defendiam os judeus (em segredo) tinham medo de todas as mortes e/ou empatia por eles, os moralistas defendem "mentir é errado" mas na verdade o que estão a dizer é "abaixo o mentir!" e defendem também que "dizer a verdade é correcto" mas não quererão dizer "viva a dizer a verdade!"? Quando a frase se torna exclamativa, revela emoções.

Sendo assim, como podemos excluir as nossas emoções dos nossos argumentos?

Digam-me, isto faz algum sentido, ou há alguma coisa que não esteja a ver bem?

5 comentários:

  1. Reflexão interessante...

    Realmente nossos argumentos, mesmo altamente racionais, contêm motivações de carácter emocional. O próprio termo motivação implica emoção.

    Mas, creio que a expressão/conceito "argumento de carácter emocional" se refere a discursos que apelam para a emoção exageradamente. Uma exposição acalorada, na qual o orador utiliza expressões, feições e gestos fortes é muito mais convincente do que uma exposição puramente lógica e racional (portanto, fria). Esse tipo de argumentação é bastante utilizado por políticos, advogados e sofistas semelhantes...

    Parabéns pelo blog.

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  2. Encantaria-me continuar a viver sem me sentir mal.
    Gostaria de argumentar para tentar convencer a mim de algo; de conseguir chegar na vida e de parecer mesmo fria e desprovida de algo mais que a razão.
    E gostaria mais se a base da vida fosse a razão e que os meus argumentos fossem racionais. Porém, como excluir emoções das vidas e quando a vida se torna exclamativa?
    Na minha opinião, nada clara - pois me perco muitas vezes e não vejo bem muitas coisas: por detrás de tudo costuma estar um desejo ou um temor.
    O líder do Nazi, Adolf Hitler tinha medo de ser controlado por alguém... e nós não deveríamos ter também?
    Parabéns pelas questões.

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  3. Argumentar filosoficamente é quase como fazer humor: é inteligência pura. De facto, se nos rimos de uma situação como a de um homem ir de encontro a um poste por que olhou para trás, então a emoção, o sentimento está ausente. A filosofia é um pouco isso. A racionalidade exige um distanciamento face às situações vividas. Racionalizar é analisar, embora não possamos esquecer a nossa condição de sujeitos constituídos por carne. O que devemos negar é a irracionalidade. A racionalidade será a capacidade de sabermos que não estamos a ser irracionais, e isso nós sabemos.

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  4. É uma excelente questão.
    Concordo que a filosofia se trata de razão pura, sem emoção.

    Acontece que somos humanos, e a emoção é algo intrínseco à nossa espécie. Quando pensamos e argumentamos devemos estar atentos à emoção, tentando perceber que efeitos ela está a ter em nós e nos outros.
    Os exemplos que a Joana apresentou são de pessoas que argumentavam algo por causa das suas emoções, adaptando e adoptando os raciocínios às suas emoções tentando justificá-las. Mas isso não é filosofia. Poderá ser política, estratégia, psicologia, mas não filosofia.

    Algo é verdade ou falso independentemente das nossas emoções. Algo é certo ou errado, independemente das nossas emoções. O que acontece com a filosofia é que esta coloca em causa muitas das nossas crenças básicas, e como tal podemos depararmo-nos com dilemas, nem sempre fáceis, emoção/razão.

    Parece-me que o único papel da emoção na filosofia prende-se com a nossa motivação para filosofar. No limite, eu estudo filosofia porque gosto; dentro da filosofia dedico-me mais a um tema ou outro porque me parecem mais interessantes, etc.

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  5. O texto da Joana toca vários aspectos diferentes entre si. Uma coisa é argumentar apelando a emoções (ex: acho que o professor me deve dar positiva porque se me der negativa vou ficar triste e não quero ficar triste) e outra bem diferente é tomar certas emoções como guias do que é ou não correcto.

    Os filósofos que defendem o emotivismo em ética, por exemplo, defendem as nossas afirmações de carácter moral nada mais são do que a expressão de determinados sentimentos e que, por isso mesmo, não são verdadeiras nem falsas. Nesse caso, de nada serve argumentar sobre questões éticas; quando o fazemos, dizem, estamos simplesmente a tentar influenciar os sentimentos dos outros, procurando que eles sintam as coisas do mesmo modo que nós. Só que, nesse caso, resta saber por que havemos nós de querer influenciar os sentimentos dos outros e porque queremos que eles sintam as coisas da mesma maneira que nós. A não ser que tenhamos boas razões para pensar que há sentimentos que são melhores do que outros. Mas isso é o mesmo que dizer que não são, afinal, os sentimentos que contam.

    Se fossem apenas os sentimentos que contassem, como poderíamos censurar o nazi que age de acordo com os seus sentimentos negativos em relação aos judeus?

    É claro que frequentemente temos intuições sobre o que é certo e errado e que tais intuições correspondem a certas emoções. Mas a filosofia só começa verdadeiramente, como refere o Jaime, quando procuramos justificar racionalmente tais intuições ou quando procuramos testá-las, no sentido de ver se devemos ou não confiar nelas.

    Há outro aspecto vagamente aludido pela Joana e que é a ideia, associada a Hume, de que a razão não consegue, só por si, motivar a acção: argumenta-se que não é a compreensão que leva à acção, mas a emoção. Mas isto não é apelar às emoções. Hume procura apresentar argumentos a favor dessa ideia.

    Em suma, em filosofia a emoção nunca funciona como juíz; quanto muito é testemunha, uma testemunha de cuja fiabilidade nos precisamos de certificar por outros meios.

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