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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Cientificidade

Foto de Aires Almeida

A propósito da solução de Karl Popper  para o chamado "problema da demarcação" um aluno mostrou-me um apontamento colhido não sei bem onde, no qual se dizia o seguinte:

Popper defende que uma teoria é científica se, e só se, for empiricamente falsificável.

A minha pergunta é: acham isto correcto? Será mesmo isso que Popper defende? Eu acho que isto está errado. E o leitor concorda comigo? Porquê?

5 comentários:

  1. No artigo de Fernando Gil " História das Ciências e Epistemologia" constante no vol II de História e Prática das Ciências, Biblioteca da filosofia, A Regra do Jogo, Lisboa 1979,(p.172)o autor refere o seguinte acerca de Popper:

    "Uma boa teoria , uma teoria que represente um progresso na ciência(...) deve satisfazer 3 exigências.Em primeiro lugar, é preciso que proceda de uma conjectura audaciosa(....)Em seguida, esta conjetura deve ser independentemente testável, ou seja para além dos dados que se propõe explicitamentamente explicar, deve poder produzir outras consequências(...)Por fim, , a terceira condição, a mais decisiva de todas, não é apenas formal como as precedentes: prescreve que a teoria seja empiricamente posta à prova, que resista a experiências e observações conduzidas com vista à dua falfificação."

    Assim ,sendo , julgo que a resposta do seu aluno não está errada. O critério de DEmarcação implicaria que a teoria seja falsificável e refutável. Eu sublinharia apenas o "se, e só se", uma vez que ela pode ser falsificável por exemplo, se fizer uma proibição de um facto que vem a ocorrer. Contudo , segundo a interpretação de F. Gil a prova decisiva é a falsificação empírica. Marina Santos

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  2. Obrigado, Marina, pelo seu comentário.

    A recorrer a alguém, penso ser mais útil recorrer directamente ao próprio Popper do que a Fernado Gil, uma vez que estamos a discutir o que aquele terá ou não defendido. Mas parece-me que nem sequer será preciso vasculhar nos livros de Popper para concluirmos que a afirmação anterior dificilmente poderia ser defendida por ele.

    Ora, o que está errado nessa afirmação? O que está errado é (o meu colega e amigo Pedro Galvão já o explicou bem no comentário a este mesmo post, mas no FacebooK) é que a expressão "se, e só se" indica que a falsificabilidade é uma condição não apenas necessária, mas também suficiente. Mas se a falsificabilidade for uma condição suficiente para uma afirmação ser científica (ou seja, se basta a afirmação ser falsificável para ser científica), então a afirmação "A Lua é feita de queijo" seria científica, pois é falsificável. Claro que Popper não defende tal disparate.

    Assim, o que Popper quer dizer é que a falsificabilidade é apenas condição necessária (não suficiente) para a cientificidade. Neste caso, a afirmação acima (que o aluno me mostrou) teria de ser corrigida: "Popper defende que uma teoria é científica só se for empiricamente falsificável". Isto sim, é o que Popper defende.

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  3. Estamos então de acordo, que a expressão "só e só se" era o problema da questão.Marina

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  4. 1. Amanhã vai chover. - É verificável.
    2. Na próxima década vai ocorrer um terramoto em Lisboa. - Não é verificável.
    3. Todos os corvos são pretos. - É falsificável.
    4. Amanhã vai chover ou não vai chover. - Não é falsificável.

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  5. 1. "Amanhã vai chover". É verificavel, porque o valor de verdade pode ser estabelecido atraves da observação. Isto é, temos que esperar pelo amanhã, para realmente pudermos observar se chove ou não.
    2."Na próxima década vai ocorrer um terramoto em Lisboa."- É verificavel. pois conseguimos obter o valor de verdade desta afirmação, atraves da observação.
    3. "Todos os corvos são pretos"- É falsificavel. Porque podemos ainda encontrar um corvo que não seja preto.
    4."Amanhã vai chover ou não vai chover."- Não é falsificavel. Porque ambas podem verdadeiras. Ou uma coisa ou outra há-de acontecer. Flávia Magalhães. nº6

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