terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Máquinas que pensam: foi assim


A XI Conferência de Filosofia da Teixeira Gomes, realizada no passado dia 19 de Fevereiro, contou com uma sala cheia de alunos e professores atentos. Porfírio Silva, o conferencista investigador do Instituto de Sistemas e Robótica, procurou mostrar por que razão o xadrez computacional deve deixar de ser encarado como o melhor exemplo do que é a Inteligência artificial (IA). Baseando-se exclusivamente no recurso intensivo ao processamento de dados, o xadrez computacional não consegue aproximar-se suficientemente do comportamento e das capacidades típicas dos seres humanos. Isto porque, segundo Porfírio Silva, o modelo clássico da IA exemplificado pelo xadrez computacional esquece três aspectos importantes: o corpo, o mundo e os outros. Há, assim, aspectos sociais e institucionais que a IA clássica deixa de fora e que experiências como a do futebol robótico captam com vantagem, no sentido de se aproximarem do comportamento humano inteligente.

Porfírio Silva defendeu que o comportamento humano inteligente é fundamentalmente o resultado de uma história pessoal e social e que, sem uma história assim, dificilmente poderemos dizer que as máquinas podem ter comportamentos tipicamente humanos. Mas daqui não se segue que as máquinas não possam vir a fazer o seu caminho nesse sentido, apesar de estarem ainda muito longe disso.

Mas teremos razões para temer tal coisa? Bom, há seres humanos bem mais temíveis do que máquinas.

Fica um sincero agradecimento a Porfírio Silva.

3 comentários:

  1. A Inteligência Artificial é um tema extremamente interessante e curioso.
    Pergunto: porque queremos nós que as máquinas sejam ou pensem como nós?! Não existe já uma diversidade enriquecedora de seres humanos no mundo?
    A Inteligência Artificial deveria seguir no caminho, não de querer "criar um humanóide, um andróide", mas de procurar colmatar deficiências e/ou dignificar a Vida. É claro, que também neste campo surgiriam inúmeras questões éticas, fundamentalmente, e que não poderiam ser tratadas sem reflexão.
    Antónia

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  2. Se necessitarmos de robôs para jogar futebol, então aí, estaremos sozinhos no mundo. Bem, a não ser que sejam mais educadinhos e não façam anti-jogo.
    Antónia

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  3. Ciência ou profecia?...
    O número de átomos no universo, comparativamente com o número de possibilidades que uma partida de xadrez pode conter, é reduzido! E, no entanto, o alcance do xadrez computacional, comparativamente com as possibilidades de desenvolvimento das máquinas artificiais ao alcance das ciências e da tecnologia actual,é, aparentemente, bastante limitado! Talvez por isso, as abordagens são actualmente cada vez mais plurais. Mas, embora muito do que se auspicie hoje possa vir a concretizar-se longinquamente, será correcto abrir tanto à imaginação aquilo que está tão distante da actividade concertada das ciências? Ou, de outra maneira, qual é a fronteira entre uma certa profecia à volta da constelação das ciências empenhadas nesta façanha hercúlea e as possibilidades reais do trabalho hipotético destas mesmas ciências?...

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